segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Jogo dos (quase) sete erros

O site da Veja publicou um conjunto de gráficos para retratar o legado de Dilma . Em oito gráficos, pode-se brincar de jogo dos sete erros.
Alguns gráficos estão corretos, no sentido de que a forma de apresentação não distorce os dados. Ainda que algumas escolhas possam ser questionadas (como o excesso de linhas de grade, a dependência de apresentação dos valores, etc.), ao menos o que se vê é o que existe. Nessa categoria estão quatro gráficos: desempenho do PIB, salário mínimo, população na linha da pobreza e desmatamento na Amazônia. Note que não se está questionando o fato da evolução do salário mínimo apresentada ser nominal em vez de real (ou seja, o gráfico desconsidera a inflação) ou o uso de um gráfico de pizza.
Os outros quatro gráficos apresentam problemas mais graves.
- taxa de desemprego: foram utilizadas bolhas para a comparação. Há dois erros sérios no gráfico. Um é pela forma escolha, pois sem o número estampado não haveria a menor idéia de quais eram as taxas, ou seja, o gráfico em si é nulo em termos de passar alguma informação ao veitor. O outro é que no subtítulo está "variação (%)", quando na realidade se trata da taxa em si e não de sua variação.
- Índice Big Mac: mais um gráfico com dois erros. Novamente a escolha feita de mostrar um indicador utilizando uma figura, o mais precisamente a sua área, no caso, o tamanho do sanduíche (que nem é um Big Mac, que como todos sabem, é composto por "DOIS hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles em um pão com gergelim"). Há um problema em se usar áreas , pois o olho humano não é bom para fazer a comparação de forma adequada. Só que nem a área de ambos é proporcional à variação dos valores. Medi o tamanho dos dois sanduíches: a área do segundo é aproximadamente 40% maior do que o do primeiro, enquanto a variação do preço foi de 49%. O outro erro se refere à forma com que o índice foi utilizado: o Índice Big Mac serve para comparar as moedas e verificar se estão distorcidas (ver sua descrição aqui) e não se refere simplesmente ao preço do Big Mac em uma localidade.
- Valor de mercado da Petrobras: a escolha do poço de petróleo para representar o valor da empresa cai no mesmo problema comentado acima, do uso de figuras para representar variações. No caso, porém, não dá para saber se a área em questão é da torre mais o petróleo jorrando ou sem o óleo, mas em qualquer caso não corresponde à variação do valor da empresa.
- Número de bilionários brasileiros:  nesse gráfico, a altura corresponde ao número de bilionários, porém, o dado de 2013 está com uma coluna mais larga, o que induz à percepção de que o aumento do número de bilionários foi maior. A coluna de 2013 tem uma área que corresponde a cerca de 3,2 vezes á da coluna de 2010, enquanto o crescimento foi de apenas 2,2 vezes.
Em suma, para se fazer os gráficos optou-se pela variação de formas, com o uso de bolhas, linhas, áreas, colunas e figuras, às custas da acurácia na representação dos dados.






quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Eleições e gráficos

Abertas as urnas, os resultados foram apresentados de diversas formas pelos meios de comunicação. Alguns gráficos mostraram de forma eficiente a voz das urnas, outros nem tanto.
Seguem alguns exemplos publicados no site G1.

A comparação dos votos por unidade da federação entre os dois candidatos que passaram ao segundo turno em um gráfico de barras foi uma solução simples e eficiente (original aqui). O único senão é a apresentação dos valores com duas casas decimais, uma precisão desnecessária que mais suja o gráfico do que contribui para o seu entendimento.

Para a composição da Câmara dos Deputados resultante das urnas o G1 optou por um semi-círculo em arco-íris.  



O efeito visual é bonito, mas é funcional? Parte da resposta está na necessidade dos números junto à legenda. E da dificuldade de identificar os partidos com as cores.
A disposição dos partidos também parece aleatória. Não se pode dizer que é por ideologia (o PSOL aparece ao lado do PR, cuja bancada foi inflada pelos votos do Tiririca, e no extremo oposto do PT, partido do qual se originou), tampouco por coligação na disputa presidencial (o PR está no canto oposto do PT embora estivessem coligados, o PPS está longe do PSB, etcetera e etcetera).
Os recursos de interatividade tampouco foram bem explorados. No gráfico original (ver aqui) aparece o nome de cada deputado, mas não indica nem o partido (ao veitor cabe tentar adivinhar pela cor da legenda) e tampouco que unidade da federação representa.

Por fim, o G1 apresentou um gráfico sobre a evolução do número de deputados que declararam patrimônio superior a um milhão de reais (ver aqui).



Provavelmente acharam que era muito banal fazer um gráfico de colunas e resolveram adicionar a terceira dimensão: um típico exemplo de agregar dificuldade para a sua compreensão.