Os dashboards procuram imitar os painéis dos automóveis. Se para conduzir um veículo, posso me basear em mostradores circulares, por que não utilizar o mesmo formato na condução de uma empresa? Os usuários já estão familiarizados com o visual e podemos fazer com que se sinta no comando de uma nave ao utilizar os nossos programas sofisticados de B.I. (Business Intelligence).
Essa é a lógica dos desenvolvedores dos softwares. No entanto, embora possam entender de processamento de grandes bases de dados, integração de sistemas e que tais, escondem seus conhecimentos sobre informação e comunicação. [Há quem diga que o mesmo ocorre sobre a parte de business e de intelligence, mas isto é outra discussão.] Programas caríssimos e de instalação complexa se escondem por trás de cockpits que vão do bizarro ao cômico. Se alguém acha que estou exagerando, consulte, por exemplo, a galeria de horrores apresentada no livro Business Dashboards, de Rasmussen, Chen & Bansal (John Wiley & Sons, 2009). Há um agravante: os autores mostram dashboards de vários fornecedores e sugerem que o leitor se inspire neles. Eles não devem ter lido Information dashboard design de Stephen Few (O'Reilly, 2006) no qual o autor pega exemplos similares e mostra onde e porque falham.
Um dos problemas dos "reloginhos" em sua canhestra imitação dos painéis dos carros é que os propósitos são distintos que um mesmo instrumento não é capaz atender. Ao dirigir, o condutor precisa da informação da velocidade naquele instante, para calcular se é adequada às manobras que precisa fazer, ao tráfego local e para atender os limites da via. Não importa a velocidade que estava um segundo antes ou um minuto antes: apenas a informação instantânea é relevante. O conta-giros tem função similar: não interessa a quantas rpm o motor estava há um segundo, somente o giro no momento é importante para a decisão do motorista. Da mesma forma, o que é importa é saber quanto combustível resta no tanque, para decidir se precisar parar para reabastecer ou não. Ou se o motor está prestes a ferver e, portanto, é prudente parar o veículo ou se está na normalidade.
Para dirigir uma empresa, porém, a informação instantânea é de pouca relevância, exceto em algumas atividades operacionais - o que não é, por definição, função da direção da empresa, que delega a tarefa para as áreas de operação. Como agravante, os reloginhos não mostram um dado instantâneo e sim um evento passado. Mas o que um dado isolado revela sobre o desempenho de uma empresa? Saber que a receita líquida no trimestre anterior foi de $ 387.535.442,61 com margem bruta de 25,8% indica o que? Foi um bom trimestre? Não se pode dizer nada sem saber como é o histórico ou com o estimado. Se nos trimestres anteriores a receita não chegava a $ 300 milhões, poderia se dizer que foi um bom resultado, mas se passava dos $ 500 milhões, é um número pavoroso.
A estética (ou a falta dela) dos dashboards e seus "reloginhos" transborda para outros meios, como os relatórios que as empresas utilizam internamente ou para se comunicar com os públicos externos. As gracinhas visuais se repetem e a informação fica prejudicada.
A figura a seguir foi retirada de um relatório enviado por uma empresa de capital aberto a seus acionistas.
O que se pode avaliar a partir dela? Nada além do que um texto diria. Ou menos do que um tetxo diria, pois pelas escalas apresentadas, a margem bruta de 32,0% está no meio do caminho, assim como a margem líquida de 11,5% e a margem EBITDA atinge apenas um quarto da escala. Será que para estar em linha com a s demais ela deveria ser de 30%?
Veja, porém, os dados colocados em perspectiva. A figura abaixo mostra a evolução dos indicadores nos últimos oito trimestres (em milhões de reais), de forma que se pode avaliar inclusive se há sazonalidade nas vendas e resultados.
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